O livro (164 páginas) escrito por Carola Saavedra, chilena radicada no Brasil desde os três anos de idade, fala de amores desfeitos e possibilidades (im)possíveis. Fala de perdas e de encontros irreais, fadados a não acontecerem. Fala do hiato como o único lugar possível para o encontro.
As cartas escritas por uma mulher, cujo relacionamento foi desfeito, acabam indo parar nas mãos de um homem recém-separado, pai de uma filha de três anos que ele não compreende, virando sua vida ao avesso. As cartas, dia após dia, nove no total, alteram por completo a rotina de Marcos, o personagem que as recebe. E ele sabe que está agindo de forma errada ao receber cartas anônimas, possivelmente endereçadas ao antigo inquilino do apartamento em que atualmente mora, já que possuem o endereço correto, apenas o destinatário não coincide. No entanto, aquilo que começou como um "furto", passa a ser a parte mais importante e esperada de seus dias antes tão monótonos.
Sempre em envelopes azuis, as cartas são assinadas apenas por "A", uma mulher que ainda sofre a ausência do amante. Escrevê-las é uma forma de tentar entender o que ocorreu para o rompimento da relação. Nas cartas, "A" relembra os últimos momentos com seu amante, pessoa ao mesmo tempo bruta e delicada.
A parte final da narrativa desvenda o mistério do romance, após um telefonema: as cartas nunca foram direcionadas ao antigo morador do apartamento. A escritora parece brincar com o destino...
Os capítulos se sucedem entre as cartas enviadas por "A" e as reações do personagem que as lê, capítulos escritos em terceira pessoa.
Pela leitura, fica a lição de que, às vezes, o que temos de mais concreto na vida não passa de ilusão.
Começa assim:
"... Dizem que a separação nunca é um núcleo, uma urgência. Dizem que ela começa em seu avesso. E que é justamente no momento mais suave, o primeiro encontro, o primeiro olhar, que a separação começa a existir. Eu prefiro acreditar que a separação nunca termina, e que o último dia, a última noite, é um instante que se repete, a cada espera, a cada volta, cada vez que sinto a tua falta, cada vez que pronuncio o teu nome. Eu acredito que, ao te chamar, uma estratégia, um encanto, eu seja capaz de fazer com que você se vire e olhe, e, sem perceber, estenda entre nós um atalho, uma ponte." (fl. 07)