Embora o título do livro seja longo, muito longo, a leitura dessa obra de Marçal Aquino flui. São 229 páginas, mas lê-se rápido e não se esquece rapidamente aquilo que se leu. O livro fala de amor. Além de amor, fala da vida, de morte, de doenças mentais, de ciúmes, de traição, de obsessões, de perdas e recomeços. São três histórias dentro da história. Tem suspense, mortes e renascimento. Vamos à obra.
O narrador e personagem principal é Cauby ("como o cantor", como sempre brinca o próprio narrador), um fotógrafo paulistano que, por circunstâncias da vida, vai parar no interior do Pará-PA, a fim de fotografar prostitutas e trabalhadores de uma mineradora local. O relato é feito de um momento futuro regressando ao passado. O narrador personagem sabe como as coisas vão acontecer e antevê a própria morte (que não chega a acontecer).
A história de amor envolve Cauby e Lavínia, a mulher do pastor da localidade. Cauby se vê encantado, já à primeira vista, pela mulher que encontra na loja de um amigo, revelando fotografias, uma atividade comum entre esses três personagens (Cauby, Lavínia e o amigo dono da loja, de nome Chang). Por ocasião desse primeiro encontro, Cauby fica com o retrato da moça. Daí começa o desenrolar da história de amor principal do livro. Instável e portadora de dupla (ou múltiplas, como se verá depois) personalidade, Lavínia seduziu Cauby e não se escondia para os encontros vespertinos ocorridos no laboratório deste. Era chamada por Cauby de "a dona da tarde". O livro segue o relacionamento: daquela paixão inicial até o clímax da necessária despedida entre os amantes.
Como ingrediente de toda boa ficção, Cauby descobre no momento (quase) final que Lavínia espera um filho seu e desiste de seguir adiante. Ocorre que o marido, de nome Ernani, falece e Cauby, por conta do relacionamento com a mulher daquele, é o principal suspeito do assassinato, chegando a ser preso e linchado pela população local, que chamava o morto de "santo". O narrador tem ossos fraturados, perde o olho direito, tem redução na audição, mas diz que faria tudo de novo, porque ama de verdade Lavínia, que anda sumida nesse final da obra.
Um amigo de Cauby acaba por localizar a moça, que fora internada meses antes, num hospício. Completamente dopada e sem reconhecer Cauby, o reencontro entre os dois é emocionante. A mulher perdeu a criança por força do tratamanto à base de choques elétricos recebido no hospital psiquiátrico e, parece, perdeu a própria vida anterior. Agora quer ser chamada de "Lúcia".
Cauby reencontra-se, ao menos duas vezes por semana, com a amada. Ela aceita ser cortejada e tem a auto-estima reavidada com idas a salão de beleza e cinema, compras de roupas etc. Reatam (ou iniciam) o namoro como dois adolescentes. Lúcia até aceita (e gosta) de ser chamada de Lavínia, para alegria de Cauby. O narrador termina a história dizendo-se mais feliz que 97,6% das pessoas, porque conheceu o amor, que seria o sentimento mais próximo da felicidade que se pode experimentar.
Paralela à história principal, também é contada a história de amor entre o Careca, que é morador da pensão da Dona Jane, onde também vivia Cauby, e a Marinês. Ambos trabalhavam no mesmo banco e a história de amor, unilateral, diga-se, começou nas dependências do próprio banco. Marinês gostava de saber-se cortejada pelo Careca, de quem era muito amiga, mas não desgrudava do noivo Carlos Alberto. O noivo falece em um acidente de carro dias antes do casamento e Marinês se entrega à depressão e à loucura, atentando contra a própria vida, não sem antes entregar seu corpo virgem ao Careca. O amor obsessivo deste dura a vida inteira e segue depois do falecimento da amada, dando sentido à existência do personagem.
Outra história contada é a leitura do livro "O que vemos no mundo" pelo narrador. Ele intercala a leitura dessa obra com o desenrolar da sua própria história de amor. Entra como uma narrativa acessória, que qualifica a narração da história principal.
Enfim, o livro é envolvente, de leitura rápida e inesquecível, ao menos para quem já teve um amor de verdade...
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