Um homem de meia idade, romancista brasileiro, recebe um convite para ir a Londres. Não sabe muito claramente de onde partiu o convite ou o motivo exato da viagem. Só sabe que nada tem a perder. Apenas mudará de solidão: a solidão da vida em Porto Alegre, sem amigos, pela solidão em um país diferente do seu.
A história começa no aeroporto. Começa, também, a inquietante narrativa do protagonista sobre a misteriosa viagem (ou o chamado para uma "missão", como nos diz Noll).
Chegando em Londres, descobre-se um novo morador da periferia, em Hackney, bairro pobre de imigrantes situado no norte da cidade. Descobre, também, a cidade de opostos que se completam.
A uma certa altura da narrativa (que é bem mais psicológica que narrativa/descritiva), o narrador sai à busca de um espelho. Precisa ver sua própria imagem e saber se houve mudança em decorrência da viagem.
A viagem permite ao protagonista tecer inúmeros questionamentos sobre a vida: a vida que ele levava até então, a vida que ele quer levar dali para frente, a (re)descoberta da homossexualidade, a necessidade de um lugar só seu no tempo e no espaço e a esperança de um novo recomeço, mesmo que à custa de um furto de carteiras (algo impensável para um professor universitário, que ele se tornou depois).
O livro, embora pequeno em quantidade de páginas (são 111), é cansativo. Não se sabe muito bem o que é real e o que é delírio na narrativa. Trabalha o autor com uma forte imagem de náusea, de vômito, o que se vê com o desconforto físico sentido muitas vezes pelo personagem principal.
A escolha de Londres se deve ao fato de ser esta a mais globalizada das cidades. E a figura do "escritor" nos é mostrada como um desmemoriado, como aquele que quer esquecer. E, embora o narrador diga rejeitar a literatura, acaba redimido por ela (pela língua portuguesa que ensinará numa universidade).
Passa-se a ideia de um sujeito que está sempre em trânsito, que nunca chega a lugar nenhum - até o dia da sua descoberta. Mas ele descobre-se outro, completo e livre. Vale a leitura!
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