terça-feira, 26 de abril de 2011

O filho eterno, de Cristovão Tezza

Antes de começar a ler esse pequeno grande livro (222 páginas), me pus a indagar: "Ora, mas todo filho não é eterno?". E percebi que o Felipe, da história, é mais eterno que os demais filhos, se é que isso seja possível. No início da obra, o pai vê seu filho eterno como uma condenação...
O personagem principal do romance é um escritor sem muitos louros. Alguns livros engavetados, alguns "nãos" e nenhuma perspectiva de uma vida que não fosse aquela vida sustentada pela mulher. Até o dia em que se depara com a notícia da gravidez da esposa. Compreende, então, que deixará de ser o centro das atenções; terá que, à força, crescer e deixar que outra pessoa seja a criança em sua vida. Talvez até deixe de ser um "homem provisório", como sempre se intitula, para ter uma obra só sua: um filho.
E eis que nasce a criança. Só tem um problema: ela tem síndrome de Down. Seu nome é Felipe e, nos idos dos anos 80, quando do nascimento, a sociedade ainda era bastante preconceituosa com crianças portadoras da anomalia consistente na trissomia do cromossomo 21. 
O pai, então, em vista desse nascimento que não foi comemorado, espera que a criança morra ou, ao menos, que o diagnóstico não seja confirmado pelos médicos. Nenhuma das duas coisas acontece: a criança cresce, saudável, embora portadora da síndrome e o pai, aos poucos, se sente verdadeiramente pai. 
O livro acompanha a evolução da paternidade e da relação de filiação (sempre sob a ótica do pai) ao longo de vinte anos, embora quase sempre relatado no presente, o que se chama de "presente histórico".
Pequenos avanços se transformam em enorme alegria para o protagonista da história, que vai, ao longo do livro, se encontrando, cada vez mais, no papel de pai e no de escritor. Dos "nãos" iniciais, o protagonista se torna professor universitário e escritor com livros publicados em importantes editoras. O filho, condenado pela sociedade a não poder ser nada nos anos 80, torna-se artista.
A leitura da obra é difícil, pesada, mas compensa. É uma "quase biografia," já que o autor, Cristóvão Tezza, é mesmo pai de Felipe, portador da tal trissomia do cromossomo 21. Porém, o livro é ficcional, até porque escrito em terceira pessoa e com o necessário distanciamento no tempo (já que o autor precisou do passar dos anos para escrever a obra).
Pode ser visto como um romance de formação: formação do menino que não consegue se achar e do pai que se acha no limbo. Ou, dito de outra forma, do menino deformado fisicamente e de seu pai, deformado socialmente.
O curioso é que o sucesso e reconhecimento, pelo grande público, de Cristovão Tezza surgiu em vista desse livro, do seu "O filho eterno". Digno de aplausos!

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